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Pista de Skate no Ibirapuera

por Redação

Eis que surge uma proposta de pista de skate temporária para o Ibirapuera. Temporária: sim, construir e demolir depois. Uma proposta de pista como instalação artística está a poucos dias de ser aprovada no Ibirapuera para a 32ª Bienal – batizada de “Incerteza Viva“. Nome e obra adequada para um parque de futuro incerto, que nem consegue redigir e respeitar adequadamente um plano diretor ou de manejo.

Sempre um assunto polêmico, o skate no Ibirapuera já foi pauta de inúmeras reuniões do Conselho Gestor do parque. Como regular o skate no parque sem prejuízos para a segurança e o bem estar do pedestre? A ideia e a necessidade de educar geralmente surgem como resposta, mas para educar é preciso ter o que falar, ou seja, um regulamento conciso e atual do parque. Sem isso, como educar? Assim, o Ibirapuera é, também, terra de incertezas…

A Fundação Bienal quer trazer o assunto para debate; ou, no mínimo, para a fogueira, gerar ação, impactar e, dessa forma, propõe construir uma pista temporária no gramado. Sim, uma pista-arte, uma instalação da koreana Koo Jeong-A, que, se aprovada, pode ficar pronta em Setembro e será desmontada em Dezembro de 2016, com o encerramento da 32ª Bienal. Incentivo fiscal para fomentar cultura existe, mas não para fomentar o verde e o lazer…

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Seta para o local que busca autorização

Veja o que você acha da proposta e dê sua opinião! A instalação já foi aprovada pelo departamento de parques da prefeitura, órgão de tombamento e, agora, deve passar pelo Conselho Gestor do Parque nos próximos dias para aprovação final. Nós do Parque Ibirapuera Conservação fomos eleitos para representar a sociedade civil no conselho e queremos saber como você pensa. Afinal, nada mais justo do que escutar os usuários e levar para os outros vinte conselheiros a sua opinião. Perguntas:

  • Como instalação (temporária) a pista é uma boa ideia?
  • E se for permanente? O parque tem espaço para abrigar a pista? Onde? Melódromo? Estacionamento?
  • Se fosse para ser permanente, não seria melhor colocá-la e experimentar onde ela poderia eventualmente ficar e crescer?
  • Se for para ficar onde está, não seria mais interessante permeabilizar algumas vagas de estacionamento da Bienal, ao invés de cavar no jardim do parque?

Histórico

A regulamentação para lidar com skates – e o mal das pranchas voadoras de skatistas iniciantes que voavam nas canelas de pedestres – tem sido debatida há anos. Porém, mesmo encontrando algum consenso, a governança administrativa do parque é fraca, praticamente nenhuma proposta coerente de melhoria migra das discussões para um regulamento claro e implementável. As incertezas pairam no ar.

Ano após ano, a vontade de resolver os conflitos dos skatistas faz com que a questão volte a ser debatida e a proposta de construção de um espaço completo para skatistas e modalidades radicais chegou até mesmo a ser cogitada no estacionamento. O projeto foi feito, mas não foi para a frente. Está engavetado na administração do parque. O mesmo espaço proposto para a pista, o estacionamento, também foi contemplado para receber playground infantil ou para ser ocupado por novos jardins e para a ampliação da área de lazer.

A única obra que saiu do papel para o skate, se é que alguma vez esteve no papel, foi a construção da ladeira no Bosque das Araucárias. Junto a associações de skatistas, a administração do parque resolveu criar e fomentar esta ladeira de uma hora para a outra, na surdina, sem passar pelo Conselho. O número assustador de acidentes sérios com skates na Ladeira da Preguiça e a incapacidade de regular adequadamente o espaço fizeram nascer o mico de uma nova ladeira, batizada de Bosque das Araucárias, que poucas semanas depois da inauguração foi abandonada por ser perigosa e inadequada para o uso sobre prancha.

Ladeira do Bosque das Araucárias no Parque Ibirapuera

Ladeira do Bosque das Araucárias no Parque Ibirapuera

O falso temporário

Na governança pública atual, ao menos no Ibirapuera, falar em temporário é muitas vezes conversa para boi dormir. O temporário é feito, mas, por falta de algo (vontade, interesse, recursos, etc), acaba se tornando definitivo. Por exemplo: no portão 5, onde o plano diretor diz que deveria haver um bicicletário, a Prefeitura construiu temporariamente a base para os funcionários de segurança. A sede da administração, que era na Praça do Leão, não tem data para mudar do endereço temporário na Escola de Astrofísica. Estacionamentos nos jardins, que nascem como temporários, acabam virando permanentes e o parque perde seu verde. Até a feira de artesanato, criada para ocupar o projeto Ibira24h (que foi abandonado até mesmo pelos feirantes), já busca um espaço permanente, mesmo tendo sido deliberada a sua remoção pelo Conselho Gestor. São tantos os exemplos que vale um artigo só sobre esta falsa temporaridade da desgovernança.

Será que vale autorizar a instalação desta pista no gramado? Ou será que, mesmo autorizando a instalação temporária, não vale colocar em um espaço onde, se o governo falhar novamente, poderá ter vida longa sem conflitos. Por exemplo, no melódromo, área com vocação para esporte.

Saiba mais sobre o Projeto da Pista temporária da Bienal

Veja os detalhes da proposta e o projeto em análise no Conselho Gestor do Parque Ibirapuera para a obra temporária: clique para baixar.

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